sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O adeus de 2010.

"Que as crianças não sabem o porquê de desejarem algo, todos os pedagogos estão de acordo. Mas que também homens feitos se arrastem como crianças, titubeando sobre a face da terra, e, exatamente como elas, não sabem de onde vêm e para onde vão, até mesmo que não tem um fim determinado para suas ações, igualmente governados por biscoitos, balas e chibatas, ninguém faz gosto em acreditar. Quanto a mim, parece-me que não há realidade mais palpável que essa." J.W.G.

Confusos são os pensamentos obscuros
Que não se apresentam nem negam
Que não abandonam nem aquiescem
Simplesmente desgostam e esquecem
Que são vassalos
E que em sua vassalagem
Deveriam mostrar lealdade
Não ao inimigo insensível
E criador de displicência.
Subordinação à vontade e ao desejo
Não há.
Há desencontro de informação
Permeio de sonora aflição
Que aflora, soberba, por meios
Distintos, indiscretos, irresolutos
Mutantes de cercanias
Infratores de selvagerias.
Por que não se escondem
E dissipam sua infrutescência
Ao invés de semear a indecência
Que corrói a virtude de um ser tão belo
Que poderia num piscar de olhos
Criar um universo paralelo
Para cada criatura viva?
Banido será
Pois mesmo uma grande escuridão
É suprimida por um ínfimo de luminosidade.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

No que não há.

" Creiam-me, o menos mal é recordar; ninguém se fie da felicidade presente; há nela uma gota da baba de Caim. Corrido o tempo e cessado o espasmo, então sim, então talvez se pode gozar deveras, porque entre uma e outra dessas duas ilusões, melhor é a que se gosta sem doer." J.M.M.A.

Aquém da expectativa
Percebe-se a consciência
De que nada se assemelha
À plenitude da existência
Ao sublime da excelência
Ao caro da intercorrência
Ao resvalo da sapiência
À medição da eloquência
Ao esmero da essência
À doçura da fragrância.

Ah deveras saliente
É a verdade que se sente
Epifânica e indúbita
Feroz algoz
Ônus do sapiens sapiens
Que desconhece os meandros
da estrutura perfeita.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Linhas.

Tão difícil não poder falar
Quase tão difícil de escutar
Tal constatação inesperada
De uma imagem à nada moldada.

Rudes linhas, rudes doçuras
Perdeu-se a dobradura
Encontrou-se a ranhura
Numa aresta rala de feiúra.

Quem há de acreditar?
Ou deveras compreender?
Há tanto para abstrair
E tão pouco a modelar.

Delineia em mim linhas
Pinta-me de novo
Porque em tua última tela
Deixaste o pincel manchado.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Pudor.

Dane-se o pudor
Clame-se o ardor
Flamejem-se os insanos
De véus puritanos
E insanidades incendiosas!

Mostrem-se as faces
Choquem-se as carnes
Esqueçam-se as linhas
Predominem as entrelinhas!

Cursem os rios
Dos caminhos mundanos
Crispem-se os insones
Almejem-se os limites!

Fuja do ontem
Queime o hoje
Sintetize o amanhã!