terça-feira, 27 de setembro de 2011

Caminheiro.



pedaços de mim mesma espalhados...
tão clichê, mesquinho
como todos os círculos que rondam
os inafazeres.
me coloco em cada ponto
e de tudo sai em branco
emudecido de eficiência.
minha impotência perante a glória
meu desespero perante a destruição
que por milagre, pedaços deixa intactos.
entre as partes ligadas,
estão os abismos negros profundos
que às vezes possuem pontes
para atravessá-los
e depois, estas desaparecem
como se nunca existido houvessem.

no fundo, sei que de besteira
não passa.
porque é tão pequeno,
pois tanto grande há.
me diz o caminheiro ceifador
que falta um largo tempo pra me ceifar.
e eu acredito.
mas não é por minha higidez,
é pelos infinitos e belos laços
que através do abismo, me prendem.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Um certo medo.

tenho medo de machucar meu amor
com essas dores que só a mim pertencem.
peço desculpas por todas as vezes
que incumbi meu peso a ti
não tinha a intenção...

Mas no auge de meu egoísmo,
lhe impus letras de minha frustração.
Mas tenho essas porcarias a dizer
e não me calo,
nem sob minha própria penitência
de voltar a me punir, por punir-te
com a minha pena.

mantive intensamente por certo tempo
uma vontade verdeira e interior
de completamente me calar
mas novavemente retorno à várzea
e coloco com toda a podridão
minhas palavras
que não tem nexo perante a tua razão
mas que por estes axônios e sinapses
vagam como pólen ao vento.

por todas essas palavras duras,
não me custa dizer
que mesmo com toda minha inferioridade
continuo a amar
teu peito, teu coração e teu abraço
porque nele,a dívida se faz retroceder
e eu até me esqueço
que te faço sofrer.

domingo, 24 de julho de 2011

Lava-louças.

Não nasci Jane Austen
provavelmente nem nasci quem queria ser.
nasci com uma carga limitada
de dizeres e adivinhações
um tanto marcada a recordar
e sonhar.

mas sonhar é problemático,
é almejar quando não se pode
e não planejar.
pudera eu fazer planos
e não ficar com sonhos irreversíveis
ao presente.

talvez o Ser onipotente,
esteja colocando pratos limpos
sobre a mesa que um dia há de servir
boas refeições.
Mas ainda não sei
pois talvez seja necessário
ficar ou voltar para a lava-louças.

Brancas rimas.

Talvez eu quisesse viver dopada
pra me sentir menos burra
menos necessitada de sapiência.
e isso não é pela arrogância
ou impetuosidade alheia
é mais por desejo.
cada momento de insuficiência
é como um tiro pela culatra
que queria ser o melhor,
e acaba só por elucidar
e corroborar esse tipo intuição.

santo deus, que fácil às vezes
deixar o id dizer tudo!
Mas para isso, meu caro confidente,
são necessárias algumas medidas,
quem conhece o santo zepam compreende.
talvez me envergonhasse ante a indiscrição
que tais palavras podem apresentar.
mas sabe, se não fosse necessidade
eu provavelmente me calaria
frente a possível mesquinhez.

tenho razões para amar, muitas
e gigantes, tanto quanto uma galáxia
e ainda agradeço pelo que sinto
ser maior do que essas intuições
repletas de certezas.

Agora o que isso tem a ver
com viver dopada...
Ah, santo deus!
Me perdi na falta de rimas!

P.S.: Ainda bem que o amor é certeiro.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Que seja o presente.

às vezes, simples como o raio de sol
que aquece o negro,
percebe-se que não é o bastante,
que se encontra tão aquém
que a percepção é irremediável
e irrepreensível.
quiçá questionar-me-á
mas creio não haver meias palavras
que mudassem a situação.
tudo que trago, não é dispensável
e tudo que há de vir
ainda é futuro e, portanto
há de não ser indubitável.
talvez seja repreendida
pois de forma culposa
jamais em presença de dolo,
culminei neste ponto
tal que não há volta para a descoberta.
perdoe-me se discorda
mas não há volta
pois o passado e presente
já estão consolidados.

domingo, 17 de julho de 2011

Bilu.

só você extingue o ardor
que cobrem meus olhos
de mediocridade.
porque só você tem a chave
que decodifica o problema.
só por você eu tenho vontade
de sussurrar ao pé do ouvido
aquilo que tanta certeza exige.
Por e principalmente com você
eu vi o que não esperava ver
pois não me permitia acreditar
que existesse.
você, com a camisa azul
é mais imenso que o mar
ou seu reflexo para o universo.
eu tenho no fundo e na superfície
um cordão de contas de todas as vezes
em que me senti grata e agradeci
por você estar onde está,
na minha vida.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

A ti.

Houve um tempo
Em que o tempo
Contava o tempo
E apagava.
Bombardeou então a mudança
Que cortou o ritmo do contador
E ao invés de deixar pra trás
Trouxe adiante.
E nessa remada, carregou de preces
E agradecimentos aquela que não esperava
Que sorrateiramente a contagem mudasse.
Mudas são minhas palavras
Que mesmo inaudíveis
Te fazem compreender que deste peito
Embora calado,tambores batucam de emoção.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Solicitude II

Se eu tenho um desejo?
Talvez...
Não é fácil admitir
Que nem sempre tudo é tão estático
E ligado a algoritmos.
Às vezes, dois minutos
Ou se preferir, 120 segundos
São suficientes para impactar cinco horas
Que se transpõem em momentos indefinidos
Variável contínua em um intervalo.
Nem tudo precisa ser aterrador
Basta ser inesperado e sutil
Como a brisa morna que sopra num veranito
Ou o raio de sol que diz que a viúva vai casar.
Não é nescessário crer
O que deveras importa é o anseio
De um dia vir a ter fé.
Os seios do mundo são tantos
Carreados de imensidão,
Que quem, repito
Quem sou eu para predizer sua finitude?
Recebi uma lufada de vento inspirador
Cantante, com vozes, rufar e sopros
E com calma, coragem e alento
Inspiro profundamente o ritmo
Que com ternura e sem melancolia
É doce e embala minh'alma.

Na Millennium Falcon, eu vou.

Talvez eu vire marxista
porque a todos os olhares
bate aquele soco de realidade
que ninguém quer ser feliz
a não ser que a isso se resuma brilhar.

tô de saco cheio
deste mundo, um saco cheio de gente
que constrói bolhas pra depois querer
revestí-las de ouro e diamante
pra ver qual brilha mais.
enquanto sob todo o brilho
nada mais há que desnutrição.
desnutrição de alma, cultura e compaixão.
conquanto, apresenta tanta sobra
de indolência, incoerência, insuficiência
humana.

deixar o outro morrer é humano?
se achar melhor por mais brilho é humano?
então, quero ir pra Marte
ou algum planeta habitável
em alguma área propícia
num canto qualquer da galáxia
que esteja disposta a me receber.

sábado, 14 de maio de 2011

Ágape.

Vejo tanto e portanto vejo nada.
Enxergo tanto nos outros
E em mim nada.
Do tanto que vejo:
Beleza e sapiência
E em mim sinto falta.

Por que ao invés de letras sobre mim
Não brado a triste dor
Daqueles que nem pouco tanto para viver tem?
Há tantos porquês e não encontro resposta.
Tagarelar sobre mim é lixo
É perder-se em deveneio infundado
Perante o qual mudo é prolixo.

Me falta tanto, mas tanto
Que até mesmo me falta amar.
A tudo.
Às árvores, aos passáros, às pessoas...
Mas, pelo meno nisso, não me encontro sozinha.

Se amor houvesse, assim como sementes
Que mundo encantado não seria este?
Existiriam árvores multicoloridas
E flores capazes de cantar e voar
Porque o amor nutre e dá poderes especiais.
Imagine cantar à luz da lua sobre os mitos
Sem ninguém taxar-lhe de louco?
Imagine estender a mão a um idoso
E isso paracer corriqueiro?
Imagine compartilhar metade de seu hamburguer
Sem sentir-se ultrajado?
Imagine dormir com as portas abertas
Sem se preocupar se alguém vai entrar por elas?

Talvez amor seja Deus.
Não um deus relioso que se vende por aí
Nem um deus punitivo, como se impera por aí
Mas um Deus que seja amar.

"Amai-vos uns aos outros
Como eu vos amei."
(Jo 15, 12)
 
Primeira Carta de Sâo João: 
Cap. III "13 Não estranhem, irmãos, se o mundo odeia vocês. 14 Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos aos irmãos. Quem não ama, permanece na morte. 15 Todo aquele que odeia o seu irmão é assassino, e vocês sabem que nenhum assassino tem dentro de si a vida eterna.
16 Compreendemos o que é o amor, porque Jesus deu a sua vida por nós; portanto, nós também devemos dar a vida pelos irmãos. 17 Se alguém possui os bens deste mundo e, vendo o seu irmão em necessidade, fecha-lhe o coração, como pode o amor de Deus permanecer nele? 18 Filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas com obras e de verdade. 19 Desse modo saberemos que estamos do lado da verdade; e diante de Deus poderemos tranqüilizar nossa consciência; 20 e isso, mesmo que a nossa consciência nos condene, porque Deus é maior do que a nossa consciência, e ele conhece todas as coisas."

Cap. IV: " 18 No amor não existe medo; pelo contrário, o amor perfeito lança fora o medo, porque o medo supõe castigo. Por conseguinte, quem sente medo ainda não está realizado no amor. 19 Quanto a nós, amemos, porque ele nos amou primeiro. 20 Se alguém diz: «Eu amo a Deus», e no entanto odeia o seu irmão, esse tal é mentiroso; pois quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê. 21 E este é justamente o mandamento que dele recebemos: quem ama a Deus, ame também o seu irmão."


P.S.: Não é este um texto de apologia à religião. Na catástrofe em que se encontra o mundo, com pessoas morrendo de fome e sede, enquanto todos viramos o rosto pois não somos nós, talvez só que o falte seja menos egoísmo, que se traduziria em mais amor.  

Paulus - Bíblia - edição pastoral (fonte)

terça-feira, 10 de maio de 2011

LICIDEF.


e então retorno ao meu eu
de sempre.
meu eu, tão eu, tão apagado
na muldidão.
aquele eu, último da fila
de segundo, terceiro, infinito plano.
mas e quando não fui eu?
teria estado em tamanho engano
que se desvaneceu o aviso sonoro
de que esse tipo de entranha
nunca me pertenceu?

nem a casca,
nem o âmago...
na vigência deste tempo
de universo sem paralelo
não há resposta que se encontre
sem a compreensão de que
não há ecdise.

domingo, 8 de maio de 2011

A lot of mistakes.

Should I write?
I'm not supposed to write
I have just these lost words
Swimming in the paper
Looking for themselves
Because I can't reach them.

What am I?
I'm not asking who am I
'Cause I don't even know what w-h-o means
I can be dust in the wind...
Or a rolling stone going down on the hill...

 What am I?
A bird that can't leave the nest
because it has bad wings?

After all these unthinkable questions
I still don't know what am I
And if one day it will be known what who means.
But I remember... at least
I've made a promise: not write till be ready.
It's true I've tried to follow my will
But how... if not even over my brain I've got control?

P.S.: I'm sorry about grammar mistakes, but I'm still incipient. And this pseudo-poetry (yeah, I incredibly know this is not poetry) did not supposed to exist, because (I fortunately know) it's poor and awful.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Changes.

Why is it so easy to feel blue?
In every kind of mistake
There's a losing of conscience...
But the hardest is to miss yourself
Feel there's so much beyond the door
and you can't reach it
because you're too weak.

I missed my wings
two curves ago
I turned around to see what was being left
With all hope I could wish for my past
and 'cause my luck, there was a trick
And it was me, this poor and weak soul
that left her wings behind
broken and useless.

It was not suddenly...
deep inside, I knew
I always knew
it's hard to survive.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Nascer de novo.

Eu quero nascer de novo
Não quero essas mesmas pessoas
Permeando minha vida.
Essas, cuja permanência
- tóxica, diga-se de passagem-
Não consigo subjugar.

Por quê?
Se minha a vida é
E tão somente minhas são minhas escolhas?
Por que algo tão compreensível
Insinua-se de modo tão complexo?

I want to share a new life
With people who really realize
What means to feel
Not this people that I've been known
That just smells like lies
Leaving the poetry just for those
Who are looking for a blue sky.

I'll put you in a bag
And blow till you ask me to stop
Because you feel unright.
So I'll ask you:
Do you deserve my mercy?


P.S.: Desabafo simples, um pouco consternado com certas pessoas que certamente não mereceriam atenção.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Sob a luz dos meus olhos.



"...
Olhos nos olhos
Quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais
..."


Eu ainda tenho meus olhos verdes...
Que não são opacos como os seus.
Ainha tenho minha alma pura
Sem manchas de traição.
Não faço parte dos sádicos
Que inundam o mundo de dores incompreensíveis.
Não cunho sentimentos a partir do ar
Para que então sejam jogados ao vento.

Comprando indulgências inocentemente
Caio em sentimentos pueris
E me sacrifico na tentativa
De lhe ajudar a alçar voo
Do seu chão de miséria e super gravidade.

As asas dos anjos caem e se dissipam
Quando deixam de ser usadas
Assim também se perdem suas almas
Quando pelo vil se intoxicam.

domingo, 17 de abril de 2011

Mon Chéri.


enquanto a chama arde, o tempo corre
e esmiuça fronteiras nem mesmo conhecidas
percorridas por toques indiscriminados
dominados pelo instinto
inspirados pelo désir.

quanto custa à alma perder a sensatez?
mas talvez, quanto custa não inebriar-se?
um enigma... extenuante
pondo a inflamar conexões
e a instigar emoções desordenadas
incoordenadas pelo desmando
de querer o que está remoto.

expresso está, mesmo não dito
porque nem tudo...
está a flor da pele
nem todos os perfumes são emanados
nem todo o santo é do pau oco
e muito menos toda virgem é santa.

-oh,luxure-

Making a()way.


não tenho casa
não tenho chão...

tenho um senso
que de cada consenso
abstrai um não.

esvaziada.. assim estou
num lugar qualquer
de nada peculiar.
me encontro perdida
jogada ao destino,
que tal qual menino
que joga o peão,
espera da sorte
o fim do rodopiar.

silêncio que é canto
apatia que é musicalidade.
um tanto sem competência
o maestro rege
sem reciprocidade da platéia.
ele de fato não liga
o botão de desconfiança
e para o que sente o espectador.
este, passivo
vê tudo tal qual um espantalho
que espanta tudo que anda e voa
pois cada qual com seu intuito.
será que em meio a palha
o inexpressivo poderia responder?

um dilema
mas cada qual,seu enigma.

P.S.: Não sou a maior fã de legião, mas essa versão (da música da Joni Mitchell) é muito boa!

terça-feira, 12 de abril de 2011

Ó soluço!

E uma das mais belas:


Um vazio
Simples vazio
Um algum que não encontra
Um há que não dá notícia.

Talvez fim
Certeza não início
Talvez dia
Com certeza noite.

Busca de um canto
Encontro de um assento
Que abana pretensioso
Para o perdido.

Soluço de ares
Desfazer de afazeres
Conhecimento de subliminares
cantos de Hades.

Perdido o desencontrado
Relembrado o esquecido
Ficamos todos singelos
Num canto do céu.

sábado, 9 de abril de 2011

Ao silêncio.

 "...
Keep on a straight line, I don't believe I can,
Trying to find a needle in a haystack.
Chilly wind you're piercing like a dagger,
It hurts me so - yeah.

Nobody needs to discover me,
I'm back again.
You see the sunlight through the
Trees to keep you warm,
In peaceful shades of green.
Yet in the darkness of my mind 

Damascus wasn't far behind.
..."


Se fosse possível traduzir em palavras
O que por si só é indizível...
Quão mais fácil seria ser compreendido.

Será?
Será que alguém as leria?
Seriam essas palavras motivo
de deliberações e raciocínios?
Não sei,

Compreendo que há um grito calado em mim
E não sei como gritar
Esbravejar ao mundo que algo não está certo
Que os meandros não me cabem
Que as estrelas estão no infinito
Acenando, com ares de impossibilidade...

Queria ser canção, estrela...
Tudo de admirável.
Mas, meu Deus, deixaste aqui
Neste canto do universo
Uma nesga qualquer de Atena.

Ao silêncio, com esmero.
P.S.: Thank you Genesis!

domingo, 27 de março de 2011

Como uma estrela cadente eu descobri que

na verdade eu não ligo
nem pra aquilo que o espelho mostra
porque, sabe
a inquietação deu lugar à paz
que há muito não sentia.

não era capaz de sentir
que não sentir era sensato
que caminhar sem olhar pra trás
é melhor do que percorrer o mesmo caminho
vezes e vezes desconfortantes.

eu parei de julgar
aquilo que não me cabe ulgar
porque afinal, rótulos não cabem
a ninguém, nem mesmo a mim.

parar de julgar e de buscar concentrar
é meu novo caminho com mais chão
e menos pedras a me trair
e a me derrubar por resvalos.

com resquícios de outrora
e sentimentos de agora
flutuo num cosmos
no qual me deleito em tranquilidade.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Hasta cuando tenga de morir.

Tenho tanto para me preocupar
Mas veja bem, neste tanto
não cabem misérias.

Hoje amei um paciente
Uma empatia necessária e saudável
Encontrei um tesouro ao invés de dificuldade .

Sempre amei meus pais
E todos que com eles fazem minha família
Porque neles vejo segura reciprocidade.

Já algum caso de ser senciente
Que nada sabe valorar
A não ser sua precária forma de tratar
Outros que a ele são iguais
Como poderia ter deveras amado?
Pois este nada mais é do que miséria.
E miséria, felizmente, não nos engrandece
Apenas nos leva à pena e ao asco
Pois um dia, cada ser senciente
Atrai alguma senciência
E aí meu caro, torça para ter consciência!

Adiós!

segunda-feira, 21 de março de 2011

Inominável.

Apatia,
de onde vens?
Onde te escondeste por tanto tempo
quando te chamei?

Chegas em hora inoportuna
E desfaz os bons planos que planejei
De forma repentina e bombástica..

Colocaste um abismo entre mim e o céu
Que parecia tão próximo.
Talvez fosse só eu discordando
Do que contexo que ao meu redor se ergueu.

Agora, depois de finda
A irrealidade outrora desejável
Transmutou-se em paraíso às avessas
Que tudo deixa a desejar.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Solicitude.

Eu posso ser fresca
Como a mais tenra manhã de primavera
Amar e fazer amar
Como a borboleta que deixa o casulo
Em seu primeiro voo.

Entretanto também posso ser amarga
Como a mais forte resina do lúpulo
Distanciar e fazer distanciar
Como a usina que sob forte pressão
Ameaça ruir.

Tal qual as duas, sou eu.
Dádiva e carma.
Não cabe a mim escolher
Este dom não me foi dado
Foi-me apenas imperado
Compreender e corresponder.

sábado, 12 de março de 2011

Doce-de-batata-doce.

Sim, com crianças
Não se brinca.
Deveras insipientes na arte da vida
As crianças passam como se nada foi
Nada é e nada será.
Tudo se resume a segundos
E deles, a arte de não duvidar.
Nem de fazer duvidar.
Impõem tal crenças com suas falsas verdades
Que os adultos, amadurecidos
E extasiados com a imensidão infantil
Não ousam refutar.

Mas não me entenda mal.
Adoro crianças.
Aquelas crianças deveras,
E não as fajutas que se sentem crescidas
Quando na verdade,é o seu odor pueril
Que engana e atrae
Alguns adultos sonhadores.

P.S.: O desejo de usar "insipiente" prevalece sobre o de usar "incipiente".

terça-feira, 8 de março de 2011

Interestelar.


Eu sou só uma estrela
Flutuando pelo cosmos
Na maior parte, sozinha
Mas às vezes, chego perto
De me chocar com alguma
Outra estrela imersa
Em um lago de outras estrelas.
Acontece que um choque
Seria revolucionar a evolução
Que carrego de outrora.
Tão complexa é a mistura de átomos
Fusões milenares em um calendário
Ou fugazes, numa outra contagem de tempo.
Não creio haver um corpo celeste
Designado à colisão
Porque no fundo de toda a expansão
Encontra-se um mistério jamais encontrado
Ou os poucos que a ele chegaram
E por sorte, o decifraram
Estimulam um encontro errado
Ou são incompreensíveis
À física desta reles estrela
De magnitude tão pequena.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Mentira.

    "O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que lêem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração." Fernando Pessoa.
    De vez em quando masoquista Às vezes realista Sigo esta estrutura mista Que nada revela. Tal qual fivela, Prendo em cintos de vigilância A existência daquilo que gosto. Gosto? Ou minto? Ou simplesmente pressinto Que de nada nada há? O certo é que no mínimo Invento que em todo este contento Há sentimento deveras. Possuo, bem num fundo escuro Uma força que não tem unidades Somente a vaidade De se esconder fortuita Esperando que seja bem-vinda.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Constatação Indesejada.

"Tenho tanto sentimento.
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é a verdadeira
E qual errada,
Ninguém nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar."
Fernando Pessoa


Talvez amar seja gostar do impensável
Sentir falta do inimaginável
Compreender o ininteligível.

Mas talvez amar
Seja tão simples quanto se importar
Que existe alguém que pensa e sente
Até mesmo se excede
Só para demonstrar.

Mas talvez amar
Deveras não exista
E sim subexista
Um estereótipo barato
Falacioso e sobrepujante
Que oprime, cansa e desanima
Um ânimo já desalmado
E só corrobora aquilo que já se sabia
Que amar, meu caro
Não existe.