sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Fagulha de morte em meu peito.

ele não viu o que eu vi
também não sentiu o que eu senti
vai me chamar de louca
quando eu disser ao telefone que Deus
deveria mandar uma praga
que destruisse os homens -e somente eles-
todo essa miríade que chamam humanidade.
eu vi, há pouco, a capacidade
de se fazer "Humanidade".
Na época do nascimento do cordeiro
fazem, controversamente, de cordeiro
aqueles que nem entremeio a história
deveriam estar.
vi, que por uma tradição, um pernil em uma mesa - para resumir-
um ser vivo perdeu a vida
de uma forma tão indigna e dolorosa
que a tradução em letras se faz difícil.
uma morte, que nem o mais vil dos humanos
haveria de merecer.
uma morte, de um Animal,
que em meu peito se traduz
como o fim daquilo que eu considerava Humanidade
também a morte da esperança nos homens
que falham, apontam e se conduzem novamente à perversidade.
se sou parte da horda humana,
pois bem, não o queria ser desta forma
que me causa náuses
e certeza de que estou aquém de fazer.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Três irmãs em casa.



Vejo que o sofá não está mais lá...
Nem a blusa, o macacão ou o vestido
Os sorriso já não vem tão fácil,
As rugas já marcam os anos,
Tais quais anéis em troncos de árvores.
Aquelas faces pueris
Foram trocadas por olhares sérios
Que buscam por sapiência.
A mudança, tão inexorável
Quanto o tempo que nos encurta dia a dia,
Se vê em cada detalhe
Que se almeje perceber.
Acho que mudou também o amor.
Antes a irmã mais velha ninava a mais nova
E então fugia do "meio" da irmandade
Para com os amigos se aventurar
(Não que isso não fosse amor!).
Mas hoje, ao invés de burlarem normas familiares,
Elas se ligam
Para o tempo cronometrar
E dizer: estou chengando!

domingo, 4 de agosto de 2013

The second petal.

Acabei de entender o mistério
Que há alguns dias me perturbava;
E olha que demorou
Visto a simplicidade do caso.
Tenho buscado adereços bonitos
De marca, se possível,
Para cobrir meu avatar.
Tenho perseguido, em mente
As mais infinitas futilidades
Que no fim, a nada devem somar.
Agora, quase como uma epifania
Percebo, com tanta lucidez e facilidade
Que aquilo que busco,
É simplesmente a beleza que me é escassa.
Não sei que diferença faria,
visto não saber como é ser cisne.
Acho que nenhuma
Pois cisnes se tornam cisnes naturalmente
Não há como forçar a natureza.
Agora, há meios de se deter a estranheza
Que se sente ao se reconhecer
Naquilo que será infinitamente.
Vou misturar uma pitada de sapiência
com um pouco de sensatez;
Creio já bastar.

sábado, 3 de agosto de 2013

The first petal.

Deixei meus cabelos no chão do salão
E lá jazem juntos a eles
As tramas de outrora,
Que a mim não pertencem mais.
Descobri, ao contrário do que sempre cri,
Que sou mulher de cabelos curtos;
E, subitamente, percebi: que sou mulher.
(Mas que espanto!)
Os traços de guria agora me estranham
E é como deixar um pedaço de mim
Partir para a terra em que com os sonhos se cruzam
Aquilo que da memória se deve apagar.
Se sinto saudade: não sei.

Embora tão rica transformação,
O cisne não alçou voo
E o pato continua em sua intransigência.
O mundo, em minha subjetividade,
Mudou do inverno ao verão
Mas a vida, em sua objetividade
Continua amena
Como um entardecer da primavera.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Feedback ou A vida circular.

acabei de fazer uma descoberta
que ao tomar minha decisão,
ativa ou passiva perante ao mundo,
deixa aos demais ou a mim
respectivamente, descontente.
se me perguntares o que prefiro,
terei de ponderar, e muito deliberar
visto que eu, em devaneios,
posso me ser sincera;
quanto aos outros, acusantes:
vis palavras podem lhe ser argumentos.

minha inocência, pueril,

de não tão outrora assim,
parou de me perseguir há poucos anos
desistiu cansada, irresoluta
depois que alguns calos mundanos
acabaram por vencê-la.
creio ser este mais um ponto
a pender-me a manchar o mundo
e a manter imaculado meu templo.
contigo, amigo, não deve ser diferente;
farpas surgem desavisadas frequentemente
enquanto no esporádico se findam as pétalas.

receio ter endurecido,

e se isso,aos 23, não me assustar,
é porque desde o início eu não deveria ter julgado.
no fim, tudo é uma festa,
da qual aproveito pouco.
procuro subterfúgios, mas mesmo assim
as evidências não deixam mais mascarar
o pouco que me sobra ao tanto que há.
sonho em viver uma vida futura
enquanto o presente me escorre aos dedos
como a clara do ovo quebrado,
que junto ao asco, mescla a vontade de salvar
do desperdício o que tantos queriam ter tido.

e nesse circo voador

eu volto, lá para as pessoas,
incomodá-las,para não mo fazê-lo
visto que já aprendi
o conceito de feedback.