domingo, 27 de março de 2011

Como uma estrela cadente eu descobri que

na verdade eu não ligo
nem pra aquilo que o espelho mostra
porque, sabe
a inquietação deu lugar à paz
que há muito não sentia.

não era capaz de sentir
que não sentir era sensato
que caminhar sem olhar pra trás
é melhor do que percorrer o mesmo caminho
vezes e vezes desconfortantes.

eu parei de julgar
aquilo que não me cabe ulgar
porque afinal, rótulos não cabem
a ninguém, nem mesmo a mim.

parar de julgar e de buscar concentrar
é meu novo caminho com mais chão
e menos pedras a me trair
e a me derrubar por resvalos.

com resquícios de outrora
e sentimentos de agora
flutuo num cosmos
no qual me deleito em tranquilidade.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Hasta cuando tenga de morir.

Tenho tanto para me preocupar
Mas veja bem, neste tanto
não cabem misérias.

Hoje amei um paciente
Uma empatia necessária e saudável
Encontrei um tesouro ao invés de dificuldade .

Sempre amei meus pais
E todos que com eles fazem minha família
Porque neles vejo segura reciprocidade.

Já algum caso de ser senciente
Que nada sabe valorar
A não ser sua precária forma de tratar
Outros que a ele são iguais
Como poderia ter deveras amado?
Pois este nada mais é do que miséria.
E miséria, felizmente, não nos engrandece
Apenas nos leva à pena e ao asco
Pois um dia, cada ser senciente
Atrai alguma senciência
E aí meu caro, torça para ter consciência!

Adiós!

segunda-feira, 21 de março de 2011

Inominável.

Apatia,
de onde vens?
Onde te escondeste por tanto tempo
quando te chamei?

Chegas em hora inoportuna
E desfaz os bons planos que planejei
De forma repentina e bombástica..

Colocaste um abismo entre mim e o céu
Que parecia tão próximo.
Talvez fosse só eu discordando
Do que contexo que ao meu redor se ergueu.

Agora, depois de finda
A irrealidade outrora desejável
Transmutou-se em paraíso às avessas
Que tudo deixa a desejar.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Solicitude.

Eu posso ser fresca
Como a mais tenra manhã de primavera
Amar e fazer amar
Como a borboleta que deixa o casulo
Em seu primeiro voo.

Entretanto também posso ser amarga
Como a mais forte resina do lúpulo
Distanciar e fazer distanciar
Como a usina que sob forte pressão
Ameaça ruir.

Tal qual as duas, sou eu.
Dádiva e carma.
Não cabe a mim escolher
Este dom não me foi dado
Foi-me apenas imperado
Compreender e corresponder.

sábado, 12 de março de 2011

Doce-de-batata-doce.

Sim, com crianças
Não se brinca.
Deveras insipientes na arte da vida
As crianças passam como se nada foi
Nada é e nada será.
Tudo se resume a segundos
E deles, a arte de não duvidar.
Nem de fazer duvidar.
Impõem tal crenças com suas falsas verdades
Que os adultos, amadurecidos
E extasiados com a imensidão infantil
Não ousam refutar.

Mas não me entenda mal.
Adoro crianças.
Aquelas crianças deveras,
E não as fajutas que se sentem crescidas
Quando na verdade,é o seu odor pueril
Que engana e atrae
Alguns adultos sonhadores.

P.S.: O desejo de usar "insipiente" prevalece sobre o de usar "incipiente".

terça-feira, 8 de março de 2011

Interestelar.


Eu sou só uma estrela
Flutuando pelo cosmos
Na maior parte, sozinha
Mas às vezes, chego perto
De me chocar com alguma
Outra estrela imersa
Em um lago de outras estrelas.
Acontece que um choque
Seria revolucionar a evolução
Que carrego de outrora.
Tão complexa é a mistura de átomos
Fusões milenares em um calendário
Ou fugazes, numa outra contagem de tempo.
Não creio haver um corpo celeste
Designado à colisão
Porque no fundo de toda a expansão
Encontra-se um mistério jamais encontrado
Ou os poucos que a ele chegaram
E por sorte, o decifraram
Estimulam um encontro errado
Ou são incompreensíveis
À física desta reles estrela
De magnitude tão pequena.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Mentira.

    "O poeta é um fingidor. Finge tão completamente Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente. E os que lêem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm. E assim nas calhas de roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração." Fernando Pessoa.
    De vez em quando masoquista Às vezes realista Sigo esta estrutura mista Que nada revela. Tal qual fivela, Prendo em cintos de vigilância A existência daquilo que gosto. Gosto? Ou minto? Ou simplesmente pressinto Que de nada nada há? O certo é que no mínimo Invento que em todo este contento Há sentimento deveras. Possuo, bem num fundo escuro Uma força que não tem unidades Somente a vaidade De se esconder fortuita Esperando que seja bem-vinda.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Constatação Indesejada.

"Tenho tanto sentimento.
Que é freqüente persuadir-me
De que sou sentimental,
Mas reconheço, ao medir-me,
Que tudo isso é pensamento,
Que não senti afinal.
Temos, todos que vivemos,
Uma vida que é vivida
E outra vida que é pensada,
E a única vida que temos
É essa que é dividida
Entre a verdadeira e a errada.
Qual porém é a verdadeira
E qual errada,
Ninguém nos saberá explicar;
E vivemos de maneira
Que a vida que a gente tem
É a que tem que pensar."
Fernando Pessoa


Talvez amar seja gostar do impensável
Sentir falta do inimaginável
Compreender o ininteligível.

Mas talvez amar
Seja tão simples quanto se importar
Que existe alguém que pensa e sente
Até mesmo se excede
Só para demonstrar.

Mas talvez amar
Deveras não exista
E sim subexista
Um estereótipo barato
Falacioso e sobrepujante
Que oprime, cansa e desanima
Um ânimo já desalmado
E só corrobora aquilo que já se sabia
Que amar, meu caro
Não existe.